Friday, May 04, 2007

E agora?

Coluna Carlos Damião ; 4/5/2007

É cedo para analisar com profundidade a Operação Moeda Verde, desencadeada hoje pela manhã pela Polícia Federal, em cumprimento a mandados de prisão expedidos pela Justiça Federal.

Primeiro, porque não é possível questionar uma decisão judicial baseada, segundo a própria PF, em investigações que começaram há nove meses. Se o juiz Zenildo Bodnar assim decidiu, é porque havia indícios muito fortes de irregularidades em inúmeros empreendimentos, que serão agora devidamente esclarecidas, através dos depoimentos dos implicados ou suspeitos.

Segundo, ninguém, a qualquer título, pode tirar conclusões sobre tudo o que houve. Foram presos empresários, políticos, autoridades municipais e funcionários públicos. Cada um deve ter a sua responsabilidade devidamente apurada pela Justiça, assegurando-se a todos o recurso inalienável à ampla defesa, como deve ser num Estado democrático de direito.

Não é de hoje que o “progresso” de Florianópolis acontece à base do toque de caixa, de muita pressa e de qualquer jeito. Isso tem um preço, esse desenvolvimento não acontece à custa da boa vontade, do espírito público e da renúncia ao lucro.

É necessário analisar com cautela tudo isso que houve, porque todos sabemos que alguns destes – responsabilizados diretamente através de medida judicial – são apenas a ponta de um imenso, mas extraordinário iceberg (minha faxineira, que é uma pessoa simples, disse que “caiu só um pedaço da casa”). Porque a irracionalidade que domina a ocupação da Ilha de Santa Catarina não desaparece apenas com os atos de hoje. Os atos de hoje são relativos a denúncias fundamentadas pelo Ministério Público Federal, por conta de agressões continuadas e “jeitinhos” que todos suspeitavam, todos comentavam, mas sobre os quais não existiam provas suficientes (era tudo na base do “fulano faz isso”, “beltrano faz aquilo”, “visse o jipe novo do rapaz?”, “olha só a cobertura que o sicrano comprou”). Se há provas, que os culpados sejam processados e condenados convenientemente.

O que se diz nas ruas

Numa rápida circulada pela cidade, o que se observa é a surpresa geral das pessoas em relação às prisões de hoje. Os gozadores de plantão se limitam a referências àquele “vereador exibido” ou àquele empresário “prepotente”. Muita gente tem dificuldades para entender o que aconteceu, por tudo quanto já houve em Florianópolis, pelas dunas do Campeche e de Ingleses invadidas por migrantes, pelas praias poluídas, pelo Maciço do Morro da Cruz destruído há décadas, pela favelização de tantos pontos da cidade, pelas construções irregulares que se espalham como praga, pela Lagoa da Conceição transformada em cloaca.

É certo, pelo que se depreende das conversas, que a cidade vai mudar. Já estava precisando mudar há muito tempo. Faltava uma “sacudida”, mesmo que essa “sacudida” venha a resultar em alguma injustiça. Um dia, alguém tinha de fazer algo para enquadrar alguns que se julgavam acima da lei e da ordem.

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